domingo, 26 de setembro de 2010

Sobre o processo de criação iniciado

Estamos quase no "fim" de um processo de criação.
Quando falo de "Fim" não quero dizer estagnamento, é mais o fechamento de um primeiro ciclo criativo que iniciamos ao nos encantarmos com o texto "Antígona" de Sófocles. Achei que agora seria bom lembrar do inicio.
Isso pode se tornar afetivo, me desculpem.
A história do meu teatro, do nosso teatro, é cada vez mais história da minha vida, das nossas vidas.

A Antígona do Sófocles me chamou sempre muita atenção. Nenhum motivo racional. Simplesmente vi alguns exercícios no segundo semestre da faculdade feitos com um trecho e me emocionei. O Trecho era esse:

"No interior do calabouço vimos pendente a moça, estrangulada em laço improvisado com seu próprio véu de linho."

Ficou gravada em minha memória a imagem que criei dessa noiva solitária, numa caverna escura, enforcada em seu próprio véu. Essa imagem era muito viva para mim. Eu a guardei em mim, entre as minhas coisas, aquelas que precisam virar cena algum dia. Elas ficaram numa gaveta imaginária até que nos encontramos e a necessidade que tinhamos de permanecer juntas nos levava a buscar um ponto de ligação. Foi quando a Juliana Veras nos apresentou a possibilidade de entrarmos na sua pesquisa sobre a tragédia grega e a aceitamos. Foi assim que criamos esse grupo. Juliana Veras, Martha Bernardo, Danielle Flores e eu, Liana Cavalcante.

A mim, falando sinceramente, muito mais do que a tragédia grega o que me motivava dentro dessa nossa idéia de um "teatro das Moiras" era que estariamos juntas. Pra sempre. (?)


Na minha mente há sempre um pra sempre.


Mas na Tragédia grega em sí me encantava aquela moça, filha de Édipo e Jocasta. Ela era um mistério para mim. Permanece sendo. Secretamente apaixonei-me por ela. Por essa razão sempre sussurrava seu nome em nossas reuniões quando falavamos em montar alguma coisa.

Pensei, no inicio, em partir de um pequeno experimento de Antigona que eu começaria sozinha e depois levaria ao grupo como proposta. Pensava sobre isso.

Admiro esse momento da criação onde em todo o tempo livre (e ás vezes até no não-livre)nosso pensamento voa para perto daquilo que pretendemos gerar.

Mas Dani nos fez uma proposta tentadora. Havia uma prova da faculdade a ser feita para a disciplina de direção teatral, professor Marcelo Costa, e dani queria apresentar um trecho de Antigona. Me empolguei com a idéia de tal forma que se tornou difil separar-me dela depois. Pensamos em como fariamos, que trecho escolheriamos e ai acrescentamos detalhes mirabolantes que não cabiam em uma pequena esquete. Foi assim que decidimos transforma-la num espetáculo. E quase tinhamos um roteiro. Um roteiro fantastico aliás, porém muito diferente do que temos hoje.

Fizemos a tal experiência. Eu era a serva e Tayana Tavares que aos poucos estava entrando no grupo era Antigona. E o texto era "aquele". Não sei explicar o que senti. Entrei em cena em um estado diferente de qualquer outro estado que até aquele dia eu pudesse já ter conquistado e vivi plenamente cada segundo. Sem fingimentos. Pela primeira vez eu senti que não iludia o publico em uma emoção falsa, mas vivia junto com ele aquele fato que era real e se colocava diante de nós.

Esse foi o começo.

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